quinta-feira, 14 de agosto de 2014

A morte beata

Vejo multiplicar-se os elogios como cogumelos depois da chuva.
Que bom que era! Que gênio! Que ser humano!
Mas nada mudou nele exceto pela morte.
Chegou santificando a ambiguidade, as falcatruas,
os pequenos gestos de desprezo, as mentiras,
os enganos de todas as dimensões,
as intenções cínicas,...
Todos os grandes e médios pecados de todos os dias.
Chegou de repente, e talvez até tenha causado um certo alarde.
Talvez tenha rompido a fantasia de alguns
de que o poder protege, eterniza, torna invulnerável.
Descobrir o contrário, a fragilidade, incomoda o ser humano.

Porém certamente a morte beatifica sempre.
Como uma névoa, atenua os defeitos e cria ilusões,
arredonda os ângulos e as pontas afiadas,
reduz os contrastes e as sombras.
A morte embeleza sempre.

Alguns me dirão insensível, fria e cruel,
e na mesma proporção da sua hipocrisia
estes mesmos depositarão um dia flores sobre mim e me cantarão odes.

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