terça-feira, 12 de maio de 2009

Filha

Tão pequena.
Foi assim que você chegou: pequena e frágil. Antes do tempo. E foi o mais ambíguo sentimento da minha vida: alegria e dor.
Lhe colocaram em uma caixinha de vidro e eu ficava olhando você como através de um oceano. Tão longe, tão inatingível para os meus braços. E marés escorriam teimosas no meu rosto.
Foram dias difíceis aqueles. Dias que duraram todo o tempo e o todo o espaço.
Você lutou muito para sobreviver. Nada era certo. Nem o ar que teimosamente empurravam para dentro dos seus pulmões e que insistia em não entrar. Nem a sombra da lesão que esse mesmo de ar poderia estar causando em você.
As palavras que me eram ditas não faziam algum sentido. Ninguém garantia nada. Nem a sua vida, menos ainda a qualidade dela. “Dê tempo ao tempo”, me diziam.
Não vou esquecer quando toquei seu corpinho pela primeira vez. Meu desejo era abraçar você, apertá-la forte contra o peito, sentir seu cheiro, seu calor. Mas foi um toque tímido, delicado, contido. Tinha medo, como se pudesse “quebrá-la”. Com o tempo, me diziam, você vai aprender.
Eu só sabia que eu queria você como nada na minha existência
Foi num momento de pausa em uma tarde chuvosa de um inverno europeu que você veio para casa.
Foram meses de angústia e tantos exames. O cansaço e a ânsia foram constantes companheiros.
O tempo, me diziam, cura tudo. Talvez seja assim. O tempo foi bom para nós.
Você foi crescendo e o amor foi se expandindo. Como um gás. O amor por você é como um gás que ocupa tudo, que envolve. Entra e sai de mim e é parte de mim.
Você aprendeu tantas coisas e eu aprendi com você. Somos mais fortes. Somos felizes. Somos uma família.
O tempo agora corre na sua direção, meu amor.
E o amor é maior que todo o tempo.

3 comentários:

  1. ai, sandra, que lindo! eu não imagino como seria ter um filho na uti. não gosto nem de pensar.
    de quanto tempo a bea nasceu? porque hoje ela é tão grandona, linda, forte.... eu nunca imaginaria que ela era prematura se você não tivesse me dito...

    beijo

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  2. Ela nasceu com 36 semanas e 2 dias. Foi um parto de emergência. Eu tive pré-eclampsia e estava com oligohidramnios. Ninguém esperava que os pulmões dela estivessem tão imaturos ainda. Ela apresentou distress respiratório, ficou na prótese ventilatória por mais de um semana, refratária ao surfactante. Foi uma angústia cada dia esperar pra saber se ela ia estar viva na manhã seguinte.
    Mas sobrevivemos. E tem gente que me pergunta porque eu "larguei" a Medicina (do hospital) por um projeto pela infância...

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  3. Puxa vida... deu pra sentir uma tremenda tristeza por aqui! E depois felicidade de conquista, claro! E que conquista amiga, que conquista!
    Parabéns! A Bea é linda, maravilhosa! Parece muito contigo!
    Depois me mande fotos de como ela está agora, deve estar bem maior já!
    bjs mil
    F.

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