A viagem de Ulisses
quarta-feira, 21 de fevereiro de 2024
segunda-feira, 19 de fevereiro de 2024
Assim, de repente.
Ontem, assim de repente, me veio a sua ausência sobre mim.
Senti a dor por aquilo que perdi, sem nunca ter tido realmente.
Dentro, agradeci por aquele momento em que segurou a minha mão, no seu quarto, enquanto eu chorava.
Ali fomos mãe e filha. Em silêncio, enquanto os outros festejavam.
Ali, nas nossas fragilidades expostas, diferentes na nossa solidão.
Ontem, como numa avalanche, senti o peso da sua falta.
domingo, 11 de fevereiro de 2024
Afogada
Hoje eu quero a benção
da água morna, quase fria,
para acalmar a neuralgia
que me queima a alma.
A onda calma
marcando a respiração.
Não há silêncio dentro.
A tristeza grita, atordoa.
A lágrima pesa como mercúrio líquido
enquanto a consciência voa
rumo ao infinito.
A rima é fraca e pobre
como o espírito.
A banheira enche devagar
me fazendo leve
como não sou.
quarta-feira, 7 de fevereiro de 2024
Cerejas e figos
Quero me lembrar de você nas cerejas e figos
e nos pêssegos doces e sucosos.
Quero me lembrar de você
nos brigadeiros, nos bolos e nas coisas proibidas,
Porque você amava o que era proibido.
De fato, você levou a vida quebrando as regras.
Foi mãe, apesar da sua estranha forma de conceber o conceito.
Quero me lembrar de como me consolou da última vez,
E na sua fragilidade, segurou a minha mão.
Nunca você foi tão minha mãe como naquele momento.
Na verdade, nosso relacionamento não foi um mar de rosas. Mas não faz mais diferença.
Quero me lembrar de você quando vir o mar
e no horizonte, suas naves brancas de cruzeiros.
Quero me lembrar do seu sorriso.
Você foi mais bonita que a garota de Ipanema, fique tranquila.
Eu vou me lembrar, mãe, enquanto eu viver.
Cármen Rute Miranda
16/7/1940-07/2/2024
terça-feira, 30 de janeiro de 2024
Reflexões
Todas as coisas que me sensibilizam passam a fazer parte de mim.
Criam improntas na minha consciência. Algumas são boas, outras são feridas.
O dia amanheceu claro e a lembrança dos ensinamentos de alguém sábio me fazem companhia.
Ainda dói, mas consigo erguer a cabeça e seguir em frente.
Vou atrás de respostas para as perguntas que nascem.
As questões antigas, que não soube resolver, vou deixar para quando tiverem soluções.
Ou vou simplesmente deixá-las caducar.
Percebo que os meus desejos são só meus, e assim meus valores.
O tempo é um bem precioso.
Mesmo que lhe pareça caro, valorize quem o dedica a você.
Nenhum dinheiro paga o que se perde para sempre.
Todo o projeto é mais excitante durante o caminho.
É o processo que conta.
Porque a conclusão é sempre a mesma: a morte.
terça-feira, 23 de janeiro de 2024
Vermelho
Nem branco, nem preto,
nem nada que mostre o espelho,
a nossa cor verdadeira
é vermelho.
Da carne que move
do sangue que pulsa
vermelho paixão
que dança uma valsa.
Nem preto, nem branco,
iguais na desgraça,
iguais na esperança,
vazios de raça.
A receita que encontrei no facebook
"Scaccia la paura
e la paura della paura.
Per qualche anno le cose basteranno.
Il pane nel cassetto
e il vestito nell’armadio.
Non dire mio.
Hai preso le cose solo in prestito.
Vivi nel tempo e capisci
che poche cose ti servono.
Accasati.
E tieni pronta la valigia.
È vero quello che dicono:
ciò che deve succedere, succederà.
Non andare incontro alla pena.
E quando arriva,
guardala tranquillamente.
È effimera come la felicità.
Non aspettare nulla.
E abbi cura del tuo segreto.
Anche il fratello tradisce
se si tratta di te o di lui.
Prendi la tua ombra
come compagna.
Scopa bene la tua stanza.
E saluta il tuo vicino.
Aggiusta il recinto
e anche il campanello alla porta.
Tieni aperta la ferita dentro di te
sotto il tetto delle cose che passano.
Strappa i tuoi piani. Sii saggio
e credi nei miracoli.
Sono iscritti da tanto tempo
nel grande piano.
Scaccia la paura
e la paura della paura."
Mascha Kaléko
("Ricetta")
Poderia ter escrito este poema. Me veste como uma pele. Descreve o meu momento como se me conhecesse. Entre tanto lixo na internet, às vezes surge uma pérola.
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