terça-feira, 11 de agosto de 2009

Amor a Roma: retratos de uma viagem


Respiro fundo e reconheço o ar.
Cada lugar tem um cheiro próprio.
Ostia no verão tem cheiro de praia, de sal, misturado aos cheiros comuns da rua e dos pinheiros. Pinheiros mediterrâneos.
É estranho retornar a um lugar onde se foi feliz depois de tantos anos. Procura-se as mesmas referências, que já não existem, os mesmos cenários, só que o filme não é mais aquele.
Ainda não fomos ao apartamento. Estamos na casa de mamma, e me sinto estranha de dormir no seu quarto, na sua cama. É estranho que uma senhora de 80 anos ceda seu lugar para nós.
Ela continua igual. Não pára. Acordou cedinho e limpou a casa, preparou o café, foi ao mercado.
Sentia saudade desta mulher forte, que enfrentou um câncer, um AVC, e a viuvez como fez toda a vida, com uma dignidade e coragem imensas.

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O apartamento depois de 5 anos ainda tem resquícios de nossa vida.
Brinquedos de bebê espalhados pela casa, coisas deixadas para trás, CDs, cartas e lembranças de uma vida que não é mais.
Algumas teias de aranha e tanta poeira...

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Os pés inchados latejam.
Se caminha muito em Roma.
Faz calor e um soleone implacável.
É verão e o alívio está em uma granita de limão.

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Os dias passaram rápidos.
Um depois do outro se revelaram.
Me trouxeram a certeza de que a vida pode ser mais simples, mais fácil.
Me fizeram claro que distância, especialmente no que diz respeito aos afetos, não se mede em quilômetros.

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Fizemos festa, 81 anos não é coisa de todos os dias. Festejamos a vida, estarmos juntos, sermos uma família.
A lua se refletia no mar.
Foi uma linda noite de julho e estávamos quase todos lá.

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No ano que vem o primeiro matrimônio na nova geração. Os meninos crescem.

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A despedida foi dolorosa e quente. Na madrugada, o abraço apertado, menos que o coração.
Partir é sempre uma perda. O tempo, inflexível, passa e arrasta o que somos e o que fomos, sem saber se existirá uma outra vez.
(Tomara, quem sabe, no ano que vem...)
Então guardo na memória o calor destes dias, os cheiros de casa, esta que ficou para trás (e que não vai mais existir depois de agora), e levo as pessoas e suas histórias dentro de mim mesma, parte de mim, enquanto for, aonde for.

Um comentário:

  1. Sandra, já voltaram! E a viagem foi boa, então! (apesar da dor da despedida, que é sempre a pior...)

    A Bea está tão linda e grande!

    Beijo,

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