quinta-feira, 18 de dezembro de 2025
Conto de Natal
Com bolas de vidro soprado, frágeis e coloridas, enchíamos o pinheiro (de verdade).
Eram caleidoscópicas esculturas brilhantes, algumas pintadas, outras em formatos que faziam cosquinhas nos olhos da molecada. Papais Noeis, estrelinhas, algumas tinham até figuras de anjos (um luxo!) as quais nem chegávamos perto depois de penduradas, porque qualquer ventinho, quebravam.
E ficavam ali, aninhadas entre as folhas pontiagudas da árvore e os flocos nevados falsos de algodão que afinal, não derretiam nos trópicos.
O Natal de antigamente era inocente e naïve. Ou talvez fossemos nós, nossos olhos infantis que viam essas maravilhas.
Fazíamos o presépio como faria um diretor de arte montando a cena de um colossal. Decidíamos as posições dos atores, a cenografia, montávamos e remontávamos tudo. Eu gostava muito da figura do bebê e queria que estivesse lá desde o começo, embora, em princípio, só entraria no cenário no dia 25. Para mim, sempre foi uma falha no “script”.
Da cozinha, nos dias que o precediam, vinham promessas cheirosas de guloseimas únicas. De fato, não eram coisas disponíveis em outras datas. Natal cheirava a rabanadas, pudim de pão com frutas cristalizadas e doces de ovos. E as carnes, colocadas no “vinha d’alhos” (como dizia minha avó) perfumava de ervas.
Éramos excluídos da ceia. Crianças dormiam cedo. A comilança era no almoço. Esperávamos a manhã do dia 25 ansiosamente.
Minha mãe fazia umas caixas decorativas falsas para colocar debaixo da árvore durante o mês de dezembro. Havia uma vermelha brilhante com um boneco de neve em relevo. Eu desejava que fosse um presente de verdade de tão bonita. Geralmente, o presente de verdade não vinha em pacotes tão bonitos. Talvez houvesse uma moral nisso que eu não entendia.
O Natal de antigamente era diferente. Menos quantidade, mesmo porque a disponibilidade das coisas era limitada. Vivíamos num mundo com horizontes até onde o olhar alcançava. As coisas levavam seu tempo para acontecer.
Mas, pensando nisso, acho que a maior mudança foi na natureza da festa. Da fé para o consumo. Embora ao constatar no que a fé se tornou, talvez o problema nem se ponha.
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