Se acorda de repente, talvez pelo barulho, talvez pelo pedaço de forro que cai na sobre você. É escuro, são três e meia da manhã. Ainda assonado, você procura entender o que acontece, se é só parte de um pesadelo. Tudo escuro e você sente que tudo se move. Cama, lustre, móvel, chão. Menos você, ali paralizado, em uma espécie de mesmerismo.
Então você se dá conta e salta da cama. E corre, procurando um batente, uma porta, uma mesa para se esconder. Mas não há mais nada ali. Só o imenso buraco que antes era a sua sala.
Você não respira, é tanta poeira. Entra pelos olhos, pelos ouvidos, não poupa nem o seu pensamento. A perna doi embaixo da viga de cimento. Esmagada. Você não respira, está escuro. Tudo escuro.
-Corre, corre! Grita a mãe. -Depressa! Faz frio e você agarra seu ursinho de pelúcia e pensa: para onde?
O cão lambe e mordisca a mão da dona adormecida. E late e se agita. Ela acorda e reclama. Então escuta o rumor da Terra. E se dá conta e sai da casa no momento em que ela cai. Ela e seu cão.
Toda a sua vida está ali. Suas fotos de infância, suas memórias. O presente que te deram no dia da formatura, seus documentos de identidade. Sua casa está ali. Aos seus pés. Cobrindo sua vida inteira como uma tumba.
Ainda segura a mão embaixo dos tijolos. Segura, como se segura a esperança, com o instinto de sobrevivência. Segura a mão flácida, esperando que alguém escute que você está ali e é vivo.
Estranha sensação. Você escapou vivo. Você escapou. O único sobrevivente... Então você olha em torno e entende que morreu junto com eles.
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