Recentemente acompanhei uma parente próxima em uma internação hospitalar.
Me causou um estranho efeito retornar ao hospital onde fiz parte de minha residência em Anestesiologia após quase 20 anos. O lugar cresceu, despersonalizou-se, tornou-se uma estrutura grande. O que antes era uma clínica elitizada, de médio porte, com prestações diferenciadas, tornou-se um hospital geral de grande porte.
Não entrei no procedimento. Sei o quanto pode “desconcentrar” a presença de um colega na SO, em especial quando é um ex-residente e o quanto a perda da rotina possa ser nefasta e mais ainda sob a efígie do termo “particular” e “parente de médico”. Aguardei o término do procedimento como faria qualquer acompanhante. Tinha e mantenho a confiança no cirurgião que executou o procedimento.
Mas, durante estes dias, pude perceber que a massificação dos serviços prestados a administradoras e cooperativas ditas “convênios”, igualou para baixo os serviços de atendimento e cuidados com os pacientes, em base ao que o “convênio” permite e não às necessidades reais e individuais dos pacientes.
É lamentável quando se comunica ao médico residente que o paciente é intolerante à droga prescrita e o mesmo responde que para prescrever um outro tipo de droga tem que fazer uma carta ao “convênio” para solicitar a liberação do seu uso. Lembrei que a paciente em questão não era conveniada e que bastaria que ele próprio a prescrevesse. Em nenhum momento percebi interesse em atender as necessidades da paciente em questão, mas sim todo o foco era nos interesses e necessidades do “convênio” e uma pressa enorme em “despachar” o caso e o acompanhante chato e metido a doutor (ele não perguntou meu CRM).
Eu não jurei prestar serviços a convênios. Jurei agir no melhor interesse dos pacientes e confesso me incomoda esta nova modalidade assistencial, infelizmente tão difusa. Me incomoda por vir de um residente, um médico em treinamento, e esta postura não ser devidamente corrigida, na verdade, até ser considerada adequada aos novos tempos.
O atendimento de enfermagem foi descuidado e superficial. Ainda não consegui identificar a técnica usada para a feitura do curativo. Escapou a todas as que eu conheço: sépticas e assépticas. Se a Prof. Enf. Raquel (PUCCAMP) que me ensinou as bases da enfermagem médico-cirúrgica tivesse visto aquilo, teria tido um chilique justificado.
Curiosamente a melhor prestação veio das copeiras e do serviço de limpeza.
Me incomoda perceber que perdeu-se o foco na coisa fundamental: a pessoa, para concentrá-lo em gestão de fundos. Não sou economista, sou médica. Peno muito por esta minha visão antiquada de como as coisas deveriam ser. Um fóssil, é isso que sou.
É engraçado quando as pessoas hoje me perguntam onde estou trabalhando e eu digo que estou na empresa, estudando efeitos de substâncias aparentemente inóquas. Todos pensam: mas e o hospital, o consultório? É como se a única medicina possível fosse aquela.
Não é assim. Medicina diz respeito à vida, a tudo o que se faz e que interfere com ela, com a qualidade de vida. Posso não estar na UTI (minha paixão), mas me sinto mais médica desta forma do que se tivesse que abrir mão de algo que acho correto para meu paciente só porque o “convênio” não paga.
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