Perguntaste-me outro dia
Se eu sabia o que era o fado
Eu disse que não sabia
Tu ficaste admirado
Sem saber o que dizia
Eu menti naquela hora
E disse que não sabia
Mas vou te dizer agora
Almas vencidas
Noites perdidas
Sombras bizarras
Na mouraria
Canta um rufia
Choram guitarras
Amor, ciúme
Cinzas e lume
Dor e pecado
Tudo isto existe
Tudo isto é triste
Tudo isto é fado
Se queres ser o meu senhor
E teres-me sempre a teu lado
Não me fales só de amor
Fala-me também do fado
A canção que é meu castigo
Só nasceu pra me perder
O fado é tudo o que eu digo
Mais o que eu não sei dizer.
Não sei, não sabe ninguém
Porque canto fado, neste tom magoado
De dor e de pranto . . .
E neste tormento, todo sofrimento
Eu sinto que a alma cá dentro se acalma
Nos versos que canto
Foi Deus, que deu luz aos olhos
Perfumou as rosas, deu ouro ao sol e prata ao luar
Ai, foi Deus que me pôs no peito
Um rosário de penas que vou desfiando e choro a cantar
E pôs as estrelas no céu
Fez o espaço sem fim
Deu luto as andorinhas
Ai . . .deu-me esta voz a mim
Se canto, não sei porque canto
Misto de ventura, saudade, ternura, e talvez de amor
Mas sei que cantando
Sinto o mesmo quando, se tem um desgosto
E o pranto no rosto nos deixa melhor
Foi Deus, que deu voz ao vento
Luz no firmamento
E pôs o azul nas ondas do mar
Ai foi Deus, que me pôs no peito
Um rosário de penas que vou desfiando e choro a cantar
Fez o poeta o rouxinol
Pôs no campo o alecrim
Deu flores à primavera ai
E deu-me esta voz a mim...
Sinto saudades de meus avós, de minha infância, das pessoas e dos anos que já se foram.
Um tempo em que certas canções a gente ouvia e sabia de cor...
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