segunda-feira, 28 de janeiro de 2013

Para sempre



O cheiro é forte, acre.
Entra dentro da gente e queima.
A garganta dói, os olhos doem, o peito dói.
A pele já não dói mais.
Eu não sei para onde devo ir. Tenho medo.
Não é normal ter medo aos vinte anos.
Mas eu sinto um grande medo.
Há fogo e fumaça. Escura, fétida, impregnante.
Sinto o peso das pessoas que me empurram. Umas gritam.
Sinto que quase tropeço em algo no chão. Algo grande e macio.
Não é o único obstáculo. Houve outros no caminho.
Muitos,...
Já me debati, desesperei, mas agora me sinto um pouco sonolenta.
Como mole, entontecida, quase bêbada, vejo tudo em câmera lenta.
Faço um esforço para continuar: -"vamos,vamos,..."
Tudo parece longínquo e inútil.
Falta ar, estou cansada, tão cansada...
O sono é inarrestável apesar da dor...
Tudo esfumaça gradativamente na escuridão.
Eu caio e fecho os olhos...
Durmo, enfim, para sempre...


(dedicado às vítimas do incêndio em Santa Maria)

- Posted using BlogPress from my iPad

Nenhum comentário:

Postar um comentário