Sempre que vejo alguém tocar bem o piano, me parece que o teclado encolhe e se torna pequeno, como de se fossem duas oitavas. E me vem uma inveja sã, esta vontade de tocar bem o instrumento, que faz encurtar as teclas sob os dedos e alongar a alma.
E eu sei que teria sido uma questão de disciplina, de dedicação, de estudo. Não é uma coisa que vem pronta, como ter bom ouvido ou ritmo. Não é só talento, mas esforço. E eu que odiava o Czerny, queria tocar Chopin e Tchaikovsky...Que tola!
Sempre foi mais fácil para mim segurar os pincéis e desenhar. E misturar pigmentos e resinas. Mais imediato, instintivo e rebelde.
Mas o piano roubou minha alma. Enfeitiçado, se alarga sempre que me sento na banqueta. Se torna uma autoestrada longa, infinita. Encantado, mágico, e imenso, debaixo dos meus dedos incapazes.
Me resta ouvir quem tem o dom de fazê-lo seu. E me maravilhar com a dança do dedilhado leve e virtuoso.
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