terça-feira, 16 de outubro de 2012

Opinionista


Quando fui convidada para escrever neste espaço* (Novae, http://www.novae.inf.br ), fiquei matutando o que seria o primeiro “post”.
Poderia ser sobre qualquer coisa, e de fato, este era o real problema. Escrever sobre qualquer coisa é por demais complicado. É sempre mais fácil quando o tema está ali, na sua frente e você elocubra, pesquisa, desenvolve conceitos. Já esta coisa “qualquer”, é ampla, irrestrita, livre demais para ser contida em uma só página em branco.
Pensei, então, em uma figura que existe na comunicação na Itália, país onde vivi por anos, e que é emblemático de “per se”: o chamado “Opinionista”. Este sujeito, independente de formação, ou informação, comparece pontualmente na mídia para dar a sua opinião. E quanto mais desajustada, pernóstica, absurda, cínica, melhor. Não interessa o tema. Vai de culinária à astrofísica, de arte até o mais recente dispositivo médico. O Opinionista tem sempre uma opinião sobre tudo e todos.
Eu que sempre me preocupei muito com o que digo, talvez por vício profissional, talvez por sentir o peso da responsabilidade das consequências, confesso que sempre invejei o Opinionista. Afinal, você ser aplaudido por falar bobagem, é um privilégio nada indiferente. Mas depois pude notar que esta é uma figura necessária. Estamos cercados de seguidores do Opinionista. As pessoas pedem por opiniões prontas. Talvez porque desenvolver opiniões próprias sobre algo seja realmente difícil. Ou talvez porque as pessoas se recusem a usar os ternos rosa pink com bolinhas laranja e as gravatas borboleta que estes personagens insistem em vestir em suas aparições públicas.
Então, pensei comigo, que esta seria a oportunidade de minha vida. Me tornaria uma Opinionista, livre para falar de qualquer coisa e sem precisar da fantasia exótica que o cargo exige, mas que fere o senso estético de qualquer um. E por este simples detalhe, já dou graças ao santo computador.
Vou propor dois temas, assim meio ao acaso. Escolhidos em uma montanha de temas possíveis, quase por sorteio. Serão só dois, porque um é pouco e três é demais.
E começo com uma supernecessária crítica (não podia deixar de ser) à crônica de J. R. Guzzo na Veja de 10 de Outubro, intitulada singelamente de “O Queijo e a Lei”.
Querido colega, sua crônica sobre o queijo, seus furos e regulamentação (também furada) é até bonitinha, especialmente na parte que o senhor sugere que a Presidente pode estar comendo algo ilegal (queijos mineiros), mas a apologia ao queijo sem controle é no mínimo temerário. Eu não como queijo cuja proveniência desconheço. No entanto, não li em seu texto nenhum incentivo a adotar medidas de proteção aos pequenos agricultores como adotar o famoso selo DOCP, denominação de origem controlada e protegida. Tudo bem que implica em custos, implica em modernização das técnicas de conservação das matérias primas, etc, mas garantiria a genuinidade dos produtos e valorizaria o território com segurança para o consumidor final, sem apologia à Bactéria Selvagem.
Outro assunto útil e necessário nos próximos dias, cuja opinião do Opinionista é fundamental, é “Quem matou o Max?” na novela. Diga-se de passagem que só assisti alguns capítulos saltuários e que tenho dificuldade em nomear alguns personagens. Este detalhe não impede a minha opinião formada sobre o tema. Curiosamente, vejo gente se descabelando para achar um bonzinho que convença suficientemente como bandido para ter causado a morte do personagem. Estranho, pois na trama me pareceu existirem bandidos suficientes para terem cometido o crime. Independente de quem o autor premiar como o vencedor da corrida para a glória no “Panteão dos Assassinos Televisivos”, o comportamento da população me deixa perplexa. O bandido-bandido é muito óbvio para a sede de deturpar o bem. Já pensaram se ele tropeçou e batendo a cabeça na enxada, cometeu o primeiro suicídio de fim de novela? Seria uma grande novidade, um final criativo e uma puxada de tapete nas expectativas. Mas precisamos de um assassino bom, caridoso, honesto, que pague imposto de renda, sem caixa dois, bem educado,... Já não nos contentamos com o bandido clássico. O malvado, antissocial, dissimulado, vingativo, ganancioso. Não!
Talvez ressuscitem Madre Tereza de Calcutá, pois como é sabido, ela frequentava o lixão. Do outro lado do mundo, mas não faz mal. Vai dar uma ótima externa internacional.

( NA: *o blog na revista digital NovaE)

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