Ando refletindo sobre alguns aspectos da carreira médica e sobre os valores sociais.
Fatores que contribuíram para a decadência da Medicina foram:
a) proliferação de “profissionais” (habilitados ou não) praticando (com ou sem licença) procedimentos médicos: prescrição, procedimentos invasivos, por exemplo, sem as devidas competências. O despreparo evidente e o descaso com as consequências colocam em risco desnecessário o paciente, desvalorizando as boas práticas e os profissionais sérios.
b) acesso facilitado à informação sem adequado preparo e consequente insuficiente INTERPRETAÇÃO do leitor para os dados que lhe são fornecidos, muitas vezes levando o sujeito a minimizar os impactos dos diagnósticos e os riscos das terapêuticas, dando-lhes a falsa impressão que o exercício da Medicina é tão fácil quanto apertar o botão “enter” no teclado.
c) baixa remuneração, levando ao encurtamento do tempo destinado à anamnese e exame físico
d) transferência do diagnóstico baseado em raciocínio clínico para o baseado em resultados de exames
e) errôneo conceito de Saúde pela sociedade
f) valorização de aspectos secundários em detrimento de aspectos essenciais: aparência sendo mais importante que a essência.
g) a política de esvaziamento da autoridade sanitária, onde “quem tem razão sou eu” baseado na minha vontade.
h) o desprezo pela ciência e o favorecimento do pensamento mágico, mais intuitivo e emocional, mais imediato e sem necessidade de esforço pessoal.
Tenho muito medo de onde isso vai nos levar como sociedade.
Sinceramente, não sei até quando ainda teremos médicos. Talvez até quando a indústria dos diplomas permitir.
A vida vem sendo banalizada, tratada como um insumo há séculos. Mas ainda havia algum respeito, algum limite moral.
Atualmente vejo pessoas morrerem por trocados, por prazer simples do agressor. Não há valor na vida humana. Perdeu-se o caráter de “especialidade e sacralidade” da existência.
Talvez seja esse o ponto crucial nessa equação. Talvez uma coisa seja o reflexo da outra.
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