Mesmo sabendo que este momento chegaria, após um estado de quase luto que se arrastou por meses, dói.
Um pedaço de mim, talvez o mais significativo, aquele que me moldou ao longo da vida, para quem eu quis mostrar que era capaz, não está mais aqui.
A vida é mesmo um brinquedo frágil que quebra à toa, e viver não é que uma sequência de despedidas. Pena que para entender isso seja preciso sentir.
Não foi a primeira perda significativa. Não será a última, talvez.
As coisas são imprevisíveis e às vezes cruéis.
Desta vez, eu pude me despedir. Dizer muitas vezes o quanto lhe amava, o quanto o senhor foi importante para mim. E desde o diagnóstico foram tantas as despedidas. E nos dissemos como fomos queridos um para o outro mesmo na nossa história tortuosa de pai e filha. Não tenho dúvidas sobre o quanto o senhor fosse especial. Uma pessoa que na minha infância contava o Big-bang (“Era uma vez uma singularidade”) e o ciclo da água para me fazer dormir, que amava a ciência e me ensinou a amá-la também.
Hoje acabou. Ficam as lembranças dos seus olhos verdes (assustados e esperançosos naquela tarde no pronto-socorro), os muitos beijos na testa e as risadas, os filmes que tínhamos que assistir, o seu sempre “-Desejo que você seja feliz “(eu vou tentar), seu perfume de lavanda e de pinho. No fundo, o senhor nunca desistiu de nada. Vou guardar cada memória sua com carinho.
Adeus, meu pai! Ter repartido (ainda que por menos do que eu quisesse) esta vida com o senhor foi um imenso privilégio!
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