domingo, 11 de junho de 2023

“Era uma vez uma singularidade”

 Mesmo sabendo que este momento chegaria, após um estado de quase luto que se arrastou por meses, dói. 

Um pedaço de mim, talvez o mais significativo, aquele que me moldou ao longo da vida, para quem eu quis mostrar que era capaz, não está mais aqui. 

A vida é mesmo um brinquedo frágil que quebra à toa, e viver não é que uma sequência de despedidas. Pena que para entender isso seja preciso sentir. 

Não foi a primeira perda significativa. Não será a última, talvez. 

As coisas são imprevisíveis e às vezes cruéis. 

Desta vez, eu pude me despedir. Dizer muitas vezes o quanto lhe amava, o quanto o senhor foi importante para mim. E desde o diagnóstico foram tantas as despedidas. E nos dissemos como fomos queridos um para o outro mesmo na nossa história tortuosa de pai e filha. Não tenho dúvidas sobre o quanto o senhor fosse especial. Uma pessoa que na minha infância contava o Big-bang (“Era uma vez uma singularidade”) e o ciclo da água para me fazer dormir, que amava a ciência e me ensinou a amá-la também. 

Hoje acabou. Ficam as lembranças dos seus olhos verdes (assustados e esperançosos naquela tarde no pronto-socorro), os muitos beijos na testa e as risadas, os filmes que tínhamos que assistir, o seu sempre  “-Desejo que você seja feliz “(eu vou tentar), seu perfume de lavanda e de pinho. No fundo, o senhor nunca desistiu de nada. Vou guardar cada memória sua com carinho. 

Adeus, meu pai! Ter repartido (ainda que por menos do que eu quisesse) esta vida com o senhor foi um imenso privilégio! 

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